É a primeira vez, desde a Constituição de 1988, que um ex-presidente é condenado criminalmente. A decisão de Sérgio Moro permite que Lula recorra em liberdade
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado na Lava Jato (Foto:
Leonardo Benassatto/Reuters)
O juiz Sérgio Moro,
responsável pelos processos da Operação Lava Jato na
primeira instância, condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
no processo que envolve o caso da compra e reforma de um apartamento triplex em
Guarujá, no litoral de São Paulo.
A pena é de 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes
de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Outros dois réus no mesmo processo
também foram condenados, e quatro, absolvidos (veja a lista completa
abaixo).
É a primeira vez, desde a Constituição de 1988, que
um ex-presidente é condenado criminalmente. A sentença foi publicada nesta
quarta-feira (12) e permite que o petista recorra em liberdade.
Na decisão, Moro afirma que houve condutas
inapropriadas por parte da defesa de Lula que revelam tentativa de intimidação
da Justiça e, por isso, até caberia decretar a prisão
preventiva do ex-presidente. Porém, decidiu não mandar prendê-lo por
"prudência".
"[...] Considerando que a prisão cautelar de
um ex-Presidente da República não deixa de envolver certos traumas, a prudência
recomenda que se aguarde o julgamento pela Corte de Apelação antes de se
extrair as consequências próprias da condenação. Assim, poderá o ex-Presidente
apresentar a sua apelação em liberdade", diz a decisão. Veja a íntegra da
sentença de Sérgio Moro.
Por "falta de prova suficiente da
materialidade", o juiz absolveu Lula das acusações de corrupção e lavagem
de dinheiro envolvendo o armazenamento do acervo presidencial numa transportadora,
que teria sido pago pela empresa OAS.
O G1 fez contato
com a defesa de Lula e aguardava resposta até a última atualização desta
reportagem. Durante o decorrer do processo, os advogados negaram que Lula fosse
dono do triplex.
"Por fim, registre-se que a presente
condenação não traz a este julgador qualquer satisfação pessoal, pelo
contrário. É de todo lamentável que um ex-Presidente da República seja condenado
criminalmente, mas a causa disso são os crimes por ele praticados e a culpa não
é da regular aplicação da lei. Prevalece, enfim, o ditado 'não importa o quão
alto você esteja, a lei ainda está acima de você' (uma adaptação livre de 'be
you never so high the law is above you')", escreveu Moro na sentença.
O Ministério Público Federal (MPF) havia denunciado
o ex-presidente por ter recebido R$ 3,7 milhões em propina dissimulada da OAS
por meio do triplex reformado no Condomínio Solaris e pelo pagamento de R$
1.313.747,24 para a empresa Granero guardar itens que Lula recebeu durante o
exercício da presidência, entre 2002 e 2010. Em troca, segundo a acusação, o
ex-presidente conseguiria contratos da Petrobras para a empresa.
Com a absolvição no caso do armazenamento, Moro
considerou que Lula recebeu mais de R$ 2,2 milhões em propina. "Do
montante da propina acertada no acerto de corrupção, cerca de R$ 2.252.472,00,
consubstanciado na diferença entre o pago e o preço do apartamento triplex (R$
1.147.770,00) e no custo das reformas (R$ 1.104.702,00), foram destinados como
vantagem indevida ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva", diz na
sentença.
Moro também aplicou a Lula uma multa. "Considerando
a dimensão dos crimes e especialmente renda declarada de Luiz Inácio Lula da
Silva (cerca de R$ 952.814,00 em lucros e dividendos recebidos da LILS
Palestras só no ano de 2016), fixo o dia multa em cinco salários mínimos
vigentes ao tempo do último ato criminoso que fixo em 12/2014".
Provas
No decorrer da sentença, o juiz afirmou que há
provas documentais contra o ex-presidente e que Lula não apresentou resposta
concreta. Disse que as reformas feitas no apartamento têm caráter de
personalização.
"Assim, por exemplo, não se amplia o deck de piscina, realiza-se a demolição de um dormitório ou retira-se a sauna de um apartamento de luxo para incrementar o seu valor para o público externo, mas sim para atender ao gosto de um cliente, já proprietário do imóvel, que deseja ampliar o deck da piscina, que pretende eliminar um dormitório para ganhar espaço livre para outra finalidade, e que não se interessa por sauna e quer aproveitar o espaço para outro propósito", diz Moro (veja íntegra das provas que basearam a condenação no fim da reportagem).
A PT emitiu uma nota sobre a sentença na qual afirma que a condenação de Lula é "ataque à democracia" e "conduzida por um juiz parcial". Veja a repercussão política da condenação de Lula.
fonte: http://g1.globo.com/
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