Quando o assunto é reduzir gastos nas assembleias
legislativas, tem deputado que não quer conversa. A discussão sobre a redução
começa no Congresso Nacional, onde deputados e senadores recebem 15 salários
por ano, o que dá mais de R$ 400 mil por ano.
Um projeto já aprovado em comissão no
Senado e que ainda aguarda votação, baixa o total de 15 para 13 salários.
“Não é justo que um parlamentar tenha
vantagens salariais maiores do que os normais, do cidadão comum”, defende o conselheiro
da ONG Transparência Brasil, David Fleisher.
Se aprovado no Congresso, o corte do
14° e do 15° salários deverá se estender a todas as assembleias estaduais.
Hoje, pelo menos nove estados
brasileiros pagam 15 salários por ano aos parlamentares. Algumas assembleias já
começaram a cortar para 13, como a do Paraná. Mas em Goiás, foi o ministério
público que entrou na Justiça para suspender os salários extras.
“Se a constituição não previu esse
pagamento, na forma de ajuda de custo, chamado também de ‘auxílio-paletó’,
então não pode ser efetuado o pagamento”, explica o procurador geral de Justiça
de Goiás, Benedito Torres Neto. O caso ainda está sendo julgado.
Verba indenizatória
Verba indenizatória é o dinheiro a
que o parlamentar tem direito para pagar despesas como alimentação, divulgação
e aluguel de carros, entre outras, além do salário.
No Congresso Nacional, o valor mais
alto é pago aos senadores, R$ 41.844,45 por mês, por parlamentar, incluindo
passagens aéreas.
Na câmara dos deputados, esse valor é
de R$ 32.789,41. Mas, no Piauí, a verba indenizatória dos deputados estaduais,
que era de R$ 50 mil, passou este ano para R$ 80 mil, quase o dobro do que
recebem os senadores.
Segundo o especialista em contas
públicas, David Fleischer, ter acesso a tanta verba desgasta a imagem dos
parlamentares. “Ele passa a imagem de que ele é impune e de que ele pode fazer
praticamente qualquer coisa e que na verba indenizatório ele pode pendurar
qualquer recibo”, afirma ele.
Na assembleia do Maranhão, tem
deputado que reclama do salário de cerca de R$ 20 mil por mês. Mas no estado os
deputados recebem bem mais por ano que a soma dos 12 salários mensais. É que na
assembleia legislativa do Maranhão, os parlamentares recebem ainda o 13°, 14°,
15°, 16°, 17° e até 18° salário durante o ano.
“Muitas vezes nós tiramos do nosso
próprio salário para servir à população”, diz a deputada estadual Graça Melo.
Segundo a presidência da assembleia, os deputados maranhenses aguardam a
decisão dos cortes no Congresso Nacional para reduzir os próprios salários, mas
nem todos querem falar disso publicamente.
Os deputados estaduais maranhenses
recebem ainda R$ 1.050,00 por mês de complemento para o plano de saúde.
Detalhe: ex-deputados também recebem. No ano passado, foram mais de R$ 428,133,16
gastos com os ex-parlamentares. Na assembleia legislativa do Amapá, os 24
deputados recebem, por ano, 15 salários de R$ 20.042,00.
Segundo o IBGE, o estado é um dos
menos contribuem na soma do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apenas
0,2%. Mesmo assim, em menos de um ano, os deputados do Amapá decidiram aumentar
a chamada verba indenizatória de R$ 30 mil para R$ 100 mil mensais, ou seja,
cada deputado têm à disposição 1,2 milhão de reais por ano para cobrir gastos
extras.
Para receber o dinheiro, basta
apresentar notas fiscais e pedir reembolso. A Polícia Federal e o Ministério
Público estão investigando o uso dessas verbas.
“Como as verbas ainda não têm a
comprovação de seus gastos, nós não podemos dizer que elas são regulares, que
elas são legais. Nós achamos que é muito alto o valor para uma comunidade como
a nossa, um estado como o nosso, em que se soma uma verba de R$ 100 mil mais
uma verba de gabinete de R$ 30 mil, fora os salários”, diz a procuradora geral
da Justiça, Ivana Lúcia Fraco.
Em um dos postos de combustíveis que
presta serviços à assembleia legislativa do Amapá, em apenas um ano, foram
emitidas mais de R$ 500 mil em notas fiscais para os deputados que pediram
reembolso com a verba indenizatória. Entre os sócios da empresa, está um
deputado. O nome dele é Michel Houat Harb, conhecido como Michel JK, aparece no
contrato social do posto, mas o gerente diz que ele não é sócio do
estabelecimento.
Já o deputado Edinho Duarte
apresentou notas fiscais para pedir reembolso com despesas de divulgação em
vídeo e em um jornal local. Segundo relatório da Polícia Federal, a produtora
de vídeo pertence à esposa do deputado, e o jornal, ao filho dele.
A equipe do Fantástico tentou falar
com os deputados Edinho Duarte e Michel JK, mas eles não retornaram as
ligações. Segundo o Ministério Público, deputados da assembleia do Amapá têm
ainda o direito à maior diária do país durante as viagens. São até R$ 2.600,00
por dia, se a viagem for dentro do próprio estado.
A diária do hotel mais sofisticado do
Amapá é de R$ 280 e o prato mais caro, o tucunaré na manteiga, custa R$ 100 e
dá para seis pessoas. Sobrariam mais de R$ 2.100 da diária. Segundo a Polícia
Federal, em um ano, os deputados chegaram a receber quase R$ 4,5 milhões nas
viagens pelo estado.
Fonte: Rádiocida.net
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